Automobilismo no Brasil

O INÍCIO DO AUTOMOBILISMO NO BRASIL

OS PRIMEIROS CARROS
O primeiro automóvel usado por Henrique Santos Dumont, em 1893 era semelhante a esse.

Tudo começou em novembro de 1891 quando chegou, através do porto de Santos, o primeiro automóvel do Brasil.

Tratava-se de um Peugeot que tinha sido adquirido por Alberto Santos Dumont quando esteve na França acompanhando a sua família no tratamento de saúde do seu pai Henrique Dumont.
Era um carro com motor Daimler e movido a gasolina com 3,5 CV, dois cilindros em V, com 1.018 cc.
Alberto tinha apenas 18 anos e não há registro de que tenha circulado com seu carro, sendo bem provável que tenha comprado o automóvel com o intuito de estudar o funcionamento do seu motor com vistas à construção de aviões ou dirigíveis.
Seis meses depois o Sr. Henrique Dumont retornou à Europa juntamente com sua esposa e o jovem Alberto.
Em 1893 há registro de que o irmão mais velho de Alberto Santos Dumont, Henrique Santos Dumont foi visto circulando pela cidade de São Paulo com um automóvel, possivelmente o carro trazido em 1891.
Em 1897 registrou-se a chegada do primeiro automóvel à cidade do Rio de Janeiro, à época Capital da República.
O carro pertencia ao jornalista José do Patrcínio, que de volta de uma viagem à Europa trouxe consigo um Serpollet, com motor de 8CV e quatro cilindros em V.

FUNDAÇÃO DO AUTOMÓVEL CLUBE DO BRASIL

 

  A Sede do Automóvel Clube do Brasil na Rua do Passeio no Rio de Janeiro

  A partir de então essas “Máquinas Maravilhosas” começaram a fazer parte do cenário que compunha as ruas das duas principais cidades brasileiras e, em 1907 foi fundado o Automóvel Clube do Brasil.

Isso aconteceu em 27 de setembro de 1907 e contou com o apoio de Alberto Santos Dumont, José do Patrocínio, Álvaro Fernandes da Costa Braga, Olavo Bilac, Fernando Guerra Durval, Fernando Mendes de Almeida, Luiz de Moraes, Ernani Pinto, Marciano Aguiar Moreira, Jordano Laport, Gustavo Alexanderson, Gastão Ferreira de Almeida, o almirante José Carlos de Carvalho entre outros entusiastas, sendo eleito como seu primeiro presidente Aarão Reis.

O “RAID” RIO DE JANEIRO – SÃO PAULO


 Chegada do Conde Lesdain ao bairro da Penha depois do "raid" Rio de Janeiro - São Paulo em 1908. 

Em março de 1908 o francês Conde Lesdain saiu do Rio de Janeiro chegando à cidade de São Paulo 33 dias depois.
Lesdain era um aventureiro que, no início do século 20, percorreu o mundo em busca de aventuras e, quando chegou ao Brasil, já tinha realizado um longo “raid” pelo norte da África, segundo as publicações da época.
Para a aventura brasileira, Lesdain utilizou um Brasier com motor a gasolina de 16 CV.
O “raid”, como eram chamadas essas viagens à época, foi iniciado no dia 7 de março de 1908, com o carro partindo da cidade do Rio de Janeiro conduzido pelo Conde Lesdain, que tinha como auxiliares Henri Trotet, Gaston Conte e Albet Vivés, todos franceses, mas que moravam no Rio de Janeiro a algum tempo.
Os aventureiros partiram do Rio de Janeiro pela estrada de Santa Cruz e chegaram a Itaguaí no mesmo dia. Se nessa primeira etapa as coisas correram bem, a partir de então as dificuldades foram surgindo.
No trecho até Bananal eles se utilizaram de uma linha férrea abandonada, como estrada e, além disso, tiveram que atravessar uma região pantanosa. De Bananal atingiram Mendes no Município de Barra do Piraí.
Nesse ponto da aventura Lesdain estava prestes a desistir da empreitada quando surgiu, providencialmente, o Major Luís Barbosa da Silva, que era um fazendeiro e político da região que além de conhecer os caminhos, fez questão de acompanhar o conde até São Paulo.
A partir de então passam a serem cinco os aventureiros que seguiram através de uma estrada abandonada, até chegarem à cidade de Barra do Piraí.
Os 18 quilômetros de Barra do Piraí a Vargem Alegre, que compunham o próximo trecho, levou três dias para ser percorrido, sendo necessária a ajuda de juntas de bois para tirar o carro de atoleiros às margens do Rio Paraíba.
Com as terras alagadas foram necessários mais dois dias para o carro percorrer outros dezoito quilômetros até Barra Mansa.
Em Barra Mansa o conde ficou sabendo que não havia acesso rodoviário para chegar a Pombal na divisa com o Estado de São Paulo e de que, precisava de autorização para utilizar o leito da Estrada de Ferro Bananalense, única forma de chegar de carro até a cidade paulista de Bananal.
Mais três dias são perdidos em Bananal em virtude da falta de gasolina para abastecer o carro. De Bananal seguiram para São João Barreiro e depois para Areias e Queluz. Nessa cidade paulista foram para a fazenda do Capitão Novaes, político da região que prestou auxílio com seu pessoal abrindo caminho por estradas por onde não passava nem mesmo um carro de boi.
A próxima escala da viagem aconteceu em Cruzeiro de onde partiram para Embaú, Cachoeira, Lorena, Guaratinguetá, Aparecida, Roseira, Moreira César, Pindamonhangaba, Taubaté e Caçapava.
Em São José dos Campos foram recepcionados e receberam mais gasolina para poderem terminar o percurso e, assim, passaram por Jacareí, Santa Isabel, Poá, São Miguel e Conceição de Guarulhos.
No final da tarde do sábado, dia 11 de abril chegaram ao alto da Penha na Capital Paulista, tendo percorrido 700 quilômetros em 33 dias.
Da Penha o carro Conde Lesdain foi acompanhado pelos motociclistas Eduardo Nielsen e Procópio Carvalho e pelos automobilistas paulistanos: Clóvis Glicério (num Motobloc); Durval Rocha e Malet (num Panhard & Levassor); Mário Cardim e Mário Bellinazzo (num Lion-Peuget); Tito Prates da Fonseca, Guilherme Prates da Fonseca, Augusto Prates e o Conde Eduardo Prates (num Brown); e Luigi Matarazzo, Ancona Lopes e F. Robert num (Diatto-Clement), até chegar ao Parque Antártica onde foram recepcionados pelos paulistanos.

A DESCIDA DA SERRA DO MAR


 Mallé, mecânico e motorista do Motobloc que fez a primeira viagem São Paulo - Santos.

Depois de sua chegada à Capital Paulista, o Conde Lesdain, em recepção oferecida na Vila Penteado, declarou aos automobilistas presentes a sua intensão de descer a Serra do Mar, até Santos de automóvel.
Imediatamente um grupo liderado por Antônio Prado Júnior resolveu se antecipar ao conde pretendendo também descer de carro a Serra do Mar.
Tomada a decisão, rapidamente revisaram o Sizaire-Naudin de Paulo Prado e o Motobloc de Clóvis Glicério que no dia 15 de abril estavam em condições para enfrentarem o desafio.
Por uma questão de lealdade o conde Lesdain foi convidado, mas como não costumava dividir suas proezas, recusou o convite.
Dessa maneira, no dia 16 de abril de 1908 a comitiva partiu às 6:30 da manhã. No Sizaire-Baudin estavam Paulo Prado e seu mecânico e no Motobloc, Antônio Prado Júnior, Clóvis Glicério, Mário Cardim, Bento Canabarro e o mecânico Malet.
Os carros partiram pela Vila Mariana e passaram por São Bernardo do Campo uma hora e quinze minutos depois da saída, chegando ao Rio Grande às 9 horas e 40 minutos.
Até esse ponto a viagem foi tranquila, mas a partir de então, um verdadeiro pântano formava atoleiros quase intransponíveis.
Ao chegarem a Água Comprida entraram num atoleiro onde ficaram durante quase quatro horas até que um carro de bois chegou ao local para tirá-los da embaraçosa situação. A cena se repetiu em Zanzalá. No dia seguinte novamente ficaram retidos em outro atoleiro e quase ao meio dia chegaeam em Alto da Serra para iniciarem a descida propriamente dita. Nesse momento Paulo Prado resolveu desistir e regressar a São Paulo.
Reduzido ao carro Motobloc, a comitiva desceu lentamente a Serra por um caminho muito estreito e perigoso. Apesar de apenas 7 quilômetros os separarem do alto até a raiz da serra levaram 6 horas para cumpri-lo e chegarem a Cubatão.
Os 12 quilômetros finais foram cobertos em duas horas com o carro chegando em Santos à 19 horas do dia 17 de abril. Como tinham saído de São Paulo às 6:30 horas do dia 16, levaram 36 horas e meia para percorrer 63 quilômetros até Santos.

FUNDAÇÃO DO AUTOMÓVEL CLUBE DE SÃO PAULO

 
No dia 11 de junho foi fundado o Automóvel Clube de São Paulo (não confundir com o Automóvel Clube Estadual de São Paulo – ACESP, Automóvel Clube do Estado de São Paulo e Automóvel Clube Paulista, que nada têm há ver com esse clube), numa das salas do Palacete Martinico, localizado no Largo do Rosário. O conde Sílvio Penteado presidiu a reunião da qual estavam presentes os senhores Paulo Prado, Alexandre Mendonça, Luís Rodolfo Miranda, Antônio Prado Júnior, Pádua Sales, Luís Prado, Edgar Conceição, Luís Fonseca, Numa de Oliveira, Clóvis Glicério, José Paulino Nogueira, Plínio Prado e Boris Davidoff. Foi eleito, como primeiro Presidente do Clube, o Sr. Antônio Prado.
 Com a fundação do Automóvel Clube de São Paulo, foram iniciados os preparativos para a organização da primeira prova automobilística da América do Sul.

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